CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM MAX WEBER: ASCETISMO PROTESTANTE, CAPITALISMO E ESPÍRITO DO CAPITALISMO

por Alexander José da Silva

INTRODUÇÃO
Trazemos neste trabalho alguns pontos que acreditamos responder o questionamento e defesa de Max Weber a propósito de uma de suas principais obras, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.
Apresentamos o desenvolvimento de seu pensamento com base nos seguintes termos: ascetismo protestante, capitalismo e espírito do capitalismo. Trata-se de inferir algo vivido exclusivamente e pessoalmente pelo próprio indivíduo crente, diante da doutrina moral de sua igreja.
Pontuamos no primeiro subcapítulo a questão “após reforma protestante”, o Max Weber apresenta as influências dos seus pensamentos diante da ética calvinista. Na segunda parte temos “espírito do capitalismo” diante dos fenômenos e fatos sociais, o que o autor entende como espírito impulsionador. E fechamos “ascetismo protestante e a dedicação ao trabalho”, na religião calvinista o trabalho traz a salvação para o ser humano, sobre um olhar histórico-científico.

Após reforma protestante
Após a reforma protestante, consequentemente, o capitalismo moderno ganhou grande força. Em relação à ética calvinista, Max Weber diz:
“[1] Existe um Deus absoluto e transcendente, que criou o mundo e o governa, mas o que o espírito finito dos homens não pode captar. [2] Esse Deus, onipotente e misterioso, predestinou cada um de nós à salvação ou à danação, sem que, com nossas obras, possamos modificar um decreto divino já estabelecido. [3] Deus criou o mundo para a sua glória. [4] Esteja destinado à salvação ou à danação, o homem tem o dever de trabalhar pela glória de Deus e criar o reino de Deus sobre esta terra. [5] As coisas terrenas, a natureza humana e a carne pertencem ao mundo do pecado e da morte; a salvação não pode ser para o homem senão dom totalmente gratuito da graça divina” (REALE, 2007, p. 478, grifo nosso).

Weber em reflexão a estes cinco apontamentos da ética calvinista, apresenta-nos as combinações dos elementos histórico-religiosos, com consequências verdadeiras de grande importância para o entendimento deste processo conhecido como “espírito do capitalismo”. Este processo histórico-religioso vem nos inferir a não comunicação entre o espírito finito e o espírito infinito de Deus, ou seja, processo profético que prosseguiu até pensamento grego (REALE, 2007, p. 478).

O Espírito do capitalismo
Espírito do capitalismo faz necessário delinear e entender as questões e conceito para o pensamento de Max Weber. O Espírito é a “ânima” que rege todo o comportamento capitalista, ou seja, ele garante que o sistema funcione em si mesmo.
Weber diante deste fenômeno social da existência, o capitalismo, sendo um sistema socioeconômico só conseguiu se desenvolver nas democracias, graças às influências e do fortalecimento das ações sociais especialmente na religiosidade protestante (ANDRADE, 2012, p. 88).
Neste sentido, sua análise é antes uma proposta de investigação que mediará as influências religiosas participando da moldagem qualitativa do espírito do capitalismo. Além disso, Weber propõe compreender melhor o sentido do protestantismo, mediante os estudos dos aspectos fundamentais do sistema econômico capitalista.
O espírito do capitalismo é toda uma forma de vida que elege a aquisição não como algo meramente útil, mas um imperativo que, irrealizado, não denota tolice, mas falha no cumprimentar um dever.
Em seu pensamento e análise de estudos, a igreja calvinista. Calvino, diz, “o homem necessita alcançar a salvação de sua alma através de uma incessante busca interior”[1], pela devoção e compromisso religioso, mas nem assim ela garante ainda a elevação da espiritual dos homens.
Para se tornar “eleito da vontade divina”, então, guiará sua vida cotidianamente na vontade de Deus. Para o protestantismo a vida-profissional de cada indivíduo torna-se o “principal veículo de sua virtude” e as suas atitudes perante a sociedade. Portanto, pela religião será considerado um homem virtuoso, de moral elevada (ANDRADE, 2012, p. 88).
Segundo Reale, o capitalismo em Weber é defendido diante da existência de empresas que tem como objetivo o máximo lucro. Atingi-lo pela organização racional do trabalho. Sua principal característica é a união da vontade de lucro com a disciplina racional. Encontra-se quase em todas as sociedades, mas só tenha acontecido uma única vez é a satisfação desse desejo não pela conquista, com a disciplina e a ciência que visam a acumulação para uma classe (REALE, 2007, p. 478).
Portanto, a ética protestante ordenou ao “crente” (seguidor da igreja calvinista) desapegar-se dos bens deste mundo e praticar condutas ascéticas[2], apresentando outro conceito fundamental em Weber, ascetismo mundano[3]. Esta finalidade espiritual culmina em uma acumulação de riquezas e não tendo em vista o seu desfrute, e sim o seu reinvestimento.

Ascetismo protestante e a dedicação ao trabalho
O ascetismo protestante ou ascetismo mundano é toda integração dos indivíduos as suas vocações. Além, de ser uma negação dos prazeres da religião ritual; em termos capitalistas, é a negação da gratidão sensual no uso do dinheiro no grupo social, ou seja, o domínio da ética e do trabalho no mundo industrializado.
A “revolução” da sociedade pelas igrejas protestantes alterou a conduta de grupos dirigentes e elite econômica. Durante muito tempo o caráter do trabalhador fora defendido pela sociedade como atividade sadia, evasão, dividindo em classes dominantes e dominados, distanciando, os homens da alta cultura e do refinamento. Weber apresenta a classe social, sendo a nobreza um sinal de distinção e virtude (ANDRADE, 2012, p. 89).
O trabalho propriamente dito - ao contrário da nobreza, a questão do ócio e a gratuidade eram sinônimas de virtude - era vista como uma necessidade de pessoas culturalmente inferiores, pessoas simples, camponeses e servos (ANDRADE, 2012, p. 89).
No olhar histórico-científico vemos a valorização desta classe dominante (nobreza) sobre a classe dominada (pessoas simples, camponeses, servos). Estamos aqui falando do século XVI e XVII. O resultado de tudo isso colocará na sociedade capitalista o grande enriquecimento de um grupo e o empobrecimento de outro grupo. Surgindo fome e miséria, outros fatores tornam-se importantes para o sistema capitalista, exemplo disso, são as empresas racionalizadas e de métodos científicos de controle da economia. Já o ascetismo mundano enfatizou no mundo interior, paradoxalmente, dois lados, mas também o contexto para a busca de visões pessoais enquanto compensação para as exigências de uma vida cotidiana no capitalismo. Logo, a idade moderna assumiu duas características a vida, que tinha ao mesmo tempo um significado religioso e um efeito econômico de acumulação de riquezas.

CONCLUSÃO
Podemos concluir este espírito que impulsiona Weber a escrever, diferente do espírito transcendente e profético. Apresenta de antemão o desejo de entendermos o capitalismo. Essa mentalidade capitalista, sempre existido na China, na Índia, no Egito, “as forças mágicas” e religiosas formavam a visão de mundo e influenciavam a conduta, que prejudicaria a racionalidade econômica.
Para Weber, o espírito do capitalismo se desenvolveu a partir de alguns aspectos e estes fatos sociais serviram majoritariamente pelo protestantismo. O protestantismo foi a força espiritual que impulsionou este acontecimento. Na pessoa de Calvino podemos ver isso com mais frequência pelo simples fato de defender e fundamentar uma moral individual e econômica. Além do fato da predestinação, “nasceu pobre, morrerá pobre” e somente Deus dará a salvação e a riqueza.
A ética protestante acaba “casando” com um capitalismo urbano, do pequeno artesão que aumenta a sua capacidade de produção na aquisição de novos maquinários. Webber observa o crescimento e a evolução desta classe dominante laboriosa, a burguesia, que vai estender a jornada de trabalho. O espírito do capitalismo é uma ética profissional, que abre por fatores econômicos para chegar ao capitalismo, fatores que somente a sociologia poderá entender, segundo Antônio F. Pierucci.
No entanto, defender o estabelecimento de um raciocínio lógico capitalista, e a denominação racionalista; a existência do capitalismo e de empresas capitalistas, sendo identificado na primeira uma estrutura social, política e ideológica, podem se determinar as condições ideais para o surgimento do capitalismo moderno. A paixão pelo lucro como demonstração de prosperidade, fé e salvação, da qual, se origina a classe burguesa laboriosa ligada estreitamente à divisão do trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Thales; SETTI, Paulo A. A. Max Weber. In: LEMOS FILHO, Arnaldo (org.). Sociologia geral e do direito. 5ª. ed. Campinas: Alínea, 2012. p. 81-103.

CULTURA Brasil. Weber. Disponível em: . Acesso em 22 nov. 2012.

FRANCISNA, Francis. Modernidade: o social e o estético. In: Modernidade e modernismo: a pintura francesa do século XIX. Cosac & Narfy: São Paulo, 1998. p. 130.

MUNIZ, Ricardo. Ética neopentecostal e o espírito do consumismo. Disponível em: <http://www.comtudo.com.br/materia.php?id=19>. Acesso 05 dez. 2012.

REALE, Giovanni. Max Weber: a metodologia das ciências histórico-sociais e o desencantamento do mundo. In: História da filosofia vol. III. São Paulo: Paulus, 2007. p. 467-484.

ROSE, Ricardo. Ética protestante e o espírito do capitalismo. Disponível em: . Acesso em 22 nov. 2012.

RUSS, Jacqueline. Dicionário de filosofia. Scipione. ISBN 852622480-8.

UNIVESPTV. Clássicos da Sociologia: Max Weber. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ea-sXQ5rwZ4>. Acesso 05 dez. 2012.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Disponível em: . Acesso dia 22 nov. 2012.

___________. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Abril, 1974. p. 180-237 [capítulos II e V].





[1] ANDRADE, Thales; SETTI, Paulo A. A. Max Weber. In: LEMOS FILHO, Arnaldo (org.). Sociologia geral e do direito. 5ª. ed. Campinas: Alínea, 2012. p. 88.
[2] “Conjunto de exercícios destinados a libertar o espírito e adquirir a energia moral, por meio de um abandono dos prazeres sensíveis e dominações de esfera orgânica” (RUSS, p. 20).
[3] “O ascetismo mundano é a transformação dos fieis em “monges” que mergulhados neste mundo sem deles gozar, agentes auto-disciplinados dedicados inteiramente a servir a Deus em suas tarefas seculares, fazendo o melhor, ganhando o máximo possível, sem jamais ceder à tentação de usufruir dos prazeres disponibilizados pelo acúmulo material” (MUNIZ, Ricardo. Ética neopentecostal e espírito do consumo).

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