SEXUALIDADE NO MUNDO VIRTUAL MORAL SEXUAL

Pesquisa produzida por Alexander Silva, Everton Nucchi, Rodrigo Françoia e Willian Bento

EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS
                                                        
Tecnocultura e modernidade
A partir do momento em que o homem cerca uma quantidade de terra e diz: “isto é meu”, a sociedade toma um novo rosto social. O rosto social denominado capitalismo. Assim sendo, as revoluções industriais por parte das grandes potências do século XIX coloca-se em marcha a criação de um sistema técnico baseado na eletricidade, no petróleo, no motor a explosão e nas indústrias de composição química. André Lemos nos apresenta a revolução industrial surgindo em meio a dois grandes períodos:

De 1855 a 1870, período de adaptação de natureza técnica e econômica (crescimento demográfico, rede bancária, organização industrial, aumento da demanda); e de 1880 a 1900, onde as grandes mudanças entram em jogo com a produção de energia em larga escala (turbocompressores e motores a explosão e elétricos, aço especial, química de síntese, lubrificantes). Conjuntamente, vemos florescer a diversificação dos novos meios de transporte e de comunicação (LEMOS, 2010, p. 47, grifo nosso).

Desde o século XVIII, a ciência e a técnica ganhavam reconhecimento e autonomia. Todos os filósofos e cientistas comentavam, mencionavam e apropriavam-se delas para desenvolverem de modo simplório uma ideia aonde chegaria com toda esta ideologia do progresso social. A ciência moderna tornou-se um instrumento legítimo que permitiu a transformação, queda de tabus e a regeneração do mundo, superando os estágios religiosos e as metafísicas anteriores (LEMOS, 2010, p. 48).
A modernidade possui o estilo de uma época em que a produção da razão substantiva vai à contramão das concepções religiosas e metafísicas do mundo. O que caracteriza a modernidade, segundo Habermas, é a independência e a autonomia própria da esfera científica da moral, da religião e da arte, ou seja, a ciência e a tecnologia vão se constituindo em ideologias (LEMOS, 2010, p. 49).
Também é na modernidade que se cria o conceito de tecnocultura, sendo o fenômeno técnico para o domínio da vida social e a preocupação principal é a procura de um método eficiente às coisas. Marcuse destaca a tecnocultura como nova estrutura social que vai

estabelecer um poder unidimencionalizante, em que da organização do tempo (taylorismo, fordismo). O trabalho humano é ligado ao ritmo da indústria, onde a velocidade das máquinas determina o tempo e os movimentos do trabalhador (LEMOS, 2010, p. 51).

Portanto, o homem passa a se incorporar em máquina e seu trabalho é medido diante de sua produção. Após a Segunda Guerra Mundial, surge um novo sistema técnico que vai afetar a vida dos seres humanos de forma radical mediante o consumo. Aparece a energia nuclear, a informática e a engenharia genética.

Impacto?
No desenrolar da história, a técnica foi tomando outros olhares. Assim como ela, a comunicação transforma-se diante de cada momento histórico, muitas vezes, traduzida de forma incorreta. Daniel Bougnoux observa que Heidegger, Escola de Frankfurt, Jacques Ellul, Lucien Sfez, dentre outros, realizaram críticas substanciais, metafísicas ou flexíveis rotulando os fenômenos, transformando-os em somente pontos negativos. Para combater essas diversas tecnofobias, vem Pierre Lévy que direciona a técnica para correntes dos negócios humanos e faz lembrar sua humanidade negociando a imagem, espaço e poder.
Pierre Lévy nos adverte que a técnica não veio de outro planeta, e sim é própria criação humana para o melhoramento de sua existência. Deste homem que fala e enterra seus mortos. Do mesmo modo que o fogo de Prometeu cozinha os alimentos, endurece as peças de argila, funde mentais, queima e explode. Com a roda e a navegação que foi possível expandir nossos territórios, com a escrita, o telefone e o cinema fez aproximar das pessoas e de culturas. O mundo humano é o mundo da técnica (LÉVY, 2000, p. 21-22).
A técnica e as tecnologias vieram para dar um modo pacífico e sistemático à vida social e à cultura. Modo que os sistemas sócio-técnicos globais proporcionam as atividades humanas de interação entre as pessoas, seus pensamentos, entidades naturais e artificiais e das ideias e representações (LÉVY, 2000, p. 22). É impossível separarmos o humano de seu ambiente material, da mesma forma que não podemos separar o mundo material dos homens que inventam, produzem e criam; Nélio Nicolai, Santos Dumont, José Braz Araripe, Carlos Eduardo, Carlos Prudêncio, Nikola Tesla, Chu Ming Silveira (inventores brasileiros) e dentre outros. No entanto, nem separar a técnica, cultura e sociedade, pois para fazer técnica necessita-se de uma sociedade mediada por uma cultura que proporciona um dado (necessidade) para inventar, produzir e criar. Já dizia Aristóteles, toda causa tem sua consequência (efeito). Da mesma forma que toda necessidade possui suas as técnicas.
As máquinas a vapor, no século XIX, escravizavam os operários das indústrias têxteis, enquanto os computadores pessoais aumentavam a capacidade de agir e de se comunicar dos homens na década de 80. O que vale dizer em nota de Pierre Lévy, é que Martin Heidegger em O sentido da técnica, gerou uma numerosa descendência intelectual entre filósofos e sociólogos da técnica, em particular, bem como entre os pensadores críticos do mundo contemporâneo [...]” (LÉVY, 2000, p. 23). Assim como a tradição da escola de Frankfurt, a “técnica encontra-se sempre ao lado da ‘razão’ instrumental” (LÉVY, 2000, p. 23). Equivale citar que não podemos falar dos efeitos socioculturais ou do sentido da técnica em geral, porque aplicado pelo filósofo e pela escola filosófica, a presença dos seres humanos e o uso da técnica estão atrelados às forças que cada indivíduo exerceu em determinado período da história.
Lembra-nos Pierre,

qualquer atribuição de um sentido único à técnica só pode ser dúbia. [...] as técnicas são particularmente evidentes no caso do digital. O desenvolvimento das cibertecnologias é encorajado por Estado que perseguem a potência, em geral, e a supremacia miliar em particular. É também uma das grandes questões da competição econômica mundial entre as firmas gigantes da eletrônica e do software, entre os grandes conjuntos geopolíticos (LÉVY, 2000, p. 24).

Toda a produção tecnológica está atrelada às suas finalidades. O desenvolvimento de softwares, aplicativos, procuram aumentar a autonomia de cada indivíduo. A maior dificuldade de analisar concretamente as implicações sociais e culturais da informática está na ausência do domínio das pessoas. Na década de 50, os computadores, “monstros informáticos”, eram reservados para cálculos científicos e estatísticos. Denomina-se “monstros”, pois ocupavam andares inteiros, muito caros, sem tela nem teclados. Na década de 80, surgem os computadores pessoais, fáceis de manuseio (LÉVY, 2000, p. 24). Já dos anos 2000 até hoje, todos possuem e necessitam de computadores, para produzirem trabalhos científicos, compra e venda de mercadorias. Dizemos isso, pois assim como os computadores a sociedade técnica passou a ser estudada mediante os seus impactos culturais, econômicos e sociais.
O Ciberespaço, a extensão dos computadores e do mundo real, continua a crescer em ritmo acelerado. Cientistas e tecnicistas já passam a pensar como iremos nos comunicar no futuro. Todos esses são fenômenos que transformam as significações culturais e sociais das cibertecnologias do fim dos anos 90.
E por fim, no século XXI, aumentam a capacidade de armazenamento e a realidade virtual surge. Os conteúdos midiáticos antigos passam a ser trabalhados no ciberespaço e o digital “comunica e coloca em ciclo de retroalimentação processos físicos, econômicos ou industriais anteriormente estanques, suas implicações culturais e sociais devem ser reavaliadas sempre” (LÉVY, 2000, p. 25).

Cultura da Internet
Cultura é uma construção coletiva que transcende preferências individuais, ao mesmo tempo em que influencia as práticas das pessoas, neste caso, os produtores e usuários de internet.
O que caracteriza este movimentar-se cultural da internet é a liberdade, isto é, diante de uma estrutura de quatro camadas: cultura tecnomeritocrática[1], cultura hacker[2], cultura comunidade virtual[3] e cultura empresarial[4]. Juntas contribuem para uma ideologia de liberdade. Esta ideologia não é a cultura fundadora, pois existe várias possibilidade de se ter a liberdade. Essas camadas estão hierarquicamente dispostas e interligadas.

Sem a cultura tecnomeritocrática, os hackers não passariam de uma comunidade contra cultural. Sem a cultura hacker, as redes comunitárias na Internet não se distinguiriam de muitas outras comunidades alternativas. Assim como, sem a cultura de hacker e os valores comunitários, a cultura empresarial não pode ser caracterizada como específica à Internet (CASTELLS, 2003, p. 35).

A primeira destas quatro camadas da estrutura é a cultura tecnomeritocrática enraizada na academia e na ciência. Trata-se de uma cultura que se fundamenta no que é científico e tecnológico para o progresso do ser humano. As maiores características deste processo estão no reconhecimento de uma comunidade de membros tecnologicamente competentes, reconhecidos como pares de comunidade e suas contribuições resultam um bem comum para a comunidade de seus descobridores, ou seja, para internautas que possuem finalidades. Finalidades que estão associados à missão de construir e desenvolver um sistema de comunicação eletrônico global entre computadores e pessoas (CASTELLS, 2003, p. 36).
Avançando, teremos a cultura hacker, cujo papel é auxiliar na construção da internet por duas razões: pode-se sustentar que é o ambiente fomentador de inovações tecnológicas capitais na cooperação e a comunicação livre e/ou que faz a ponte entre o conhecimento na cultura tecnometocrática e os subprodutos empresariais que difundem a Internet na sociedade em geral (CASTELLS, 2003, p. 37).
Quando falamos de Hacker, logo, vem em nossa mente aquelas pessoas mal intencionadas, mas pelo contrário, os hackers não são os viciados em computadores que quebram códigos, penetram nos sistemas, gerando caos e violando os sistemas; os que comportam-se assim são chamados crackers.
Para maior compreender os valores específicos e a organização social da cultura hacker é preciso considerar o processo de desenvolvimento do movimento da fonte aberta, sendo ela um traço para o desenvolvimento da internet. Destacam-se hackers que fizeram do sistema simples o que temos hoje de Windows[5] e Linux[6]. O trabalho dos hackers era cooperativo, embora limitado com ausência de uma rede de interconexão (CASTELLS, 2003, p. 40).

[...] a ação preponderante dos hackers, (des)organizada em torno da Internet, e até esse momento amplamente identificado com a cultura técnica [...] não se preocupava com serviços comerciais. Queriam melhores ferramentas e mais Internet, e PCs baratos de 32 bits prometiam pôr uma coisa e outra alcance de todos (CASTELLS, 2003, p. 40).

A cultura hacker ao contrário dos crackers, a partir de um sentimento individual, passa a pensar em melhorias de sistemas para o coletivo. Já os crackers se fundamentam apenas em sentimentos e finalidades individuais.
A terceira camada desta estrutura cultural é a cultura da comunidade virtual. Os primeiros usuários das redes de computadores criaram as chamadas comunidades virtuais, essas comunidades foram fontes de valores que moldaram comportamento e organização social, com o envio de mensagens, salas de chats, jogos dentre outras coisas, discutiremos melhor a seguir.
Por fim, a última camada, cultura empresarial. Castells afirma que sem intenções as pessoas não agem, e sem a ação desses empresários, orientados por um conjunto específico de valores, não teria havido nenhuma nova economia, e a Internet teria se difundido num ritmo muito lento e com um elenco diferente de aplicações (CASTELLS, 2003, p. 49).
Esta cultura é a cultura do dinheiro. E de dinheiro em quantidade tão grande que qualquer espaço vale a pena. Assim também é a cultura do trabalho. Trabalho intenso e compulsivo. E as atividades empresariais surgem como dimensões essenciais da cultura da internet, chegando com uma nova distorção histórica, criar dinheiro com ideias e mercadorias por dinheiro. Castells identifica os empresários como artistas, profetas e ambiciosos,

uma vez que escondem seu autismo social por trás de suas proezas tecnológicas. [...] Mas suas contribuições foi/é indispensável à dinâmica cultural de múltiplas camadas gerada pelo mundo da Internet (CASTELLS, 2003, p. 52-53).

Portanto, a cultura da internet é uma cultura feita de técnicas que proporcionam um progresso aos seres humanos através das tecnologias, levado pelas comunidades de hackers que se propuseram a projetar tecnologias de forma livre e aberta, em interconexões interativas, e materializada por empresários movidos pelo dinheiro nas engrenagens da economia.

Vulgarização da Privacidade
Os valores humanos vêm sendo vulgarizados, uma vez que, aquilo que chamávamos de privacidade tornou-se público e o compartilhamento de nossas ações faz com que todos saibam o que fazemos e pensamos. Até mesmo, os Departamentos de Recursos Humanos passaram a usar as redes para intervirem na contratação e demissão de funcionários, dato que nos EUA, em estudo apresentado em Abril/2000, mostrou que 73,5%[7] das empresas estabeleceram certa forma de vigilância sobre o uso da Internet por seus empregados. Portanto, podemos dizer que usar a Internet é como morar em uma casa de vidro, em que todos que passam na rua veem o que o dono da casa faz. Gera-se, então, a necessidade de uma ética voltada para a Internet.
As plataformas são os novos ambientes de compartilhamento que vem surgindo. As pessoas estão se inserido continuamente suas vidas nestes ambientes de compartilhamento. Quem faz parte, seria como publicar-se a si mesmo no mundo da rede, segundo Antonio Spadaro, tonando-se um ser público (SPADARO, 2013, p. 144).
O Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, em fevereiro/2002, lançou uma reflexão que apontava os problemas nos meios de comunicação e uma Ética na Internet, pois as novas tecnologias orientam e contribuem em grande medida para a globalização. Tanto que levou ao aumento de riqueza e o aceleramento do desenvolvimento social, para certo hemisfério planetário. A Igreja nesta publicação não veio julgar a Internet como fonte do problema social, e sim o uso dela para benefício próprio e não da coletividade mundial.
Em nota, tanta é a ganância por poder e dinheiro que no ano vigente (2013), os EUA foram denunciados de estar espionando a nação brasileira. Conforme assunto apontado nos principais jornais do país e do mundo. Da mesma forma que os EUA fizeram isso, até que ponto estamos livres e possuímos liberdade em nossas publicações? Quais os fundamentos que proporcionam as pessoas a escreverem abertamente suas vidas nas plataformas?
O papa emérito Bento XVI diante da 43ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais[8] menciona que “as novas tecnologias digitais estão determinando mudanças fundamentais nos modelos de comunicação e nas relações humanas”. Bento, destaca o poder das tecnologias em âmbito mundial. Sendo que elas podem unir famílias ou até mesmo destruí-las. Discutiremos mais a fundo este tema no capítulo seguinte, mas muitas são as condições que determinam os nosso relacionamentos. Ora, a exemplo disso, muitas são as pessoas que se beneficiam das redes de comunicação e principalmente das plataformas como Skype, Facebook e What’s app, fazem delas uma forma de aproximação das vidas, relacionamentos e laços.
Entretanto, a tecnologia não é uma inimiga dos seres humanos. Primeiro porque é criação própria, e segundo que ela pode ser sua aliada. Para isso é necessário entender como utilizá-la, embora seja uma tarefa difícil. Antonio Spadoro[9] apresenta em seu livro “Web 2.0”, alguns conselhos para a utilização da internet:

1.   Autodeterminação: é necessário pensar bem antes de publicar dados pessoais, aceitar propostas de amizades, publicar materiais que, mesmo depois de anos, poderiam surgir do “nada” graças aos programas de busca.
2.   Respeitar os outros: é preciso aprender a se abster de publicar materiais que envolvam outras pessoas sem o consentimento delas.
3.   Mudar os dados de acesso: é aconselhável usar diferentes “nomes de usuário” e senhas para acessar as várias plataformas usadas, recorrendo também a pseudônimos diferentes.
4.   Ser informado: é necessário estar ciente de quem administra o serviço e quais as garantias que oferece com respeito ao tratamento dos dados pessoais.
5.   Formular os níveis de privacidade: é essencial verificar sempre os níveis de privacidade predeterminados e eventualmente modifica-los, possivelmente, ao menos no início, usando a máxima cautela e limitando ao máximo a disponibilidade de informações, sobretudo o que concerne à recuperação dos dados pelos programas de busca.
6.   Atenção com a identidade: é aconselhável verificar se é possível que a identidade virtual das pessoas com a qual dialogamos na Rede corresponde realmente à identidade verdadeira que leva a crer; é fácil criar uma identidade falsa e “clones” os perfis: basta dispor de uma foto e de alguns dados pessoais.
7.   Controlar as mudanças unilaterais: é aconselhável saber que os fornecedores de serviço podem introduzir mudanças unilateralmente no contrato e, portanto, é necessário verificar quando isso ocorre e o que as novas normas predispõem (SPADARO, 2003, p. 150).

 MAGISTÉRIO E ESCRITUA
Diante deste progresso assustador dos meios de comunicação, encontramos grandes vantagens para o processo de evangelização oferecido pela internet, ao mesmo tempo em que nos deparamos com sérios perigos que podem criar em cada um de nós verdadeiras patologias.
Particularmente o risco se torna preocupante, sobretudo, no âmbito da sexualidade, e em indivíduos cuja maturidade afetiva é problemática, podendo, assim, causar efeitos devastantes.
A dependência que se fala é fuga do real para o virtual, para criar-se um mundo de sonhos, chegando a verdadeiros comportamentos doentios , nos quais não se consegue mais distinguir entre fantasia e realidade.
Em 1 Cor 3, 16 – somos chamados a cuidar do nosso corpo, templo de Deus.  A epistola nos alerta sobre os falsos mestres que ensinavam falsas doutrinas. Tal ensinamento tendia a corromper, a contaminar e a destruir o edifico que deve manter puro e santo para Deus. Hoje estes falsos mestres aparecem de varias formas, e mais do que nunca, nos meios de comunicações, na internet.
A preocupação do Magistério é que a internet vem se tornando um modelo de vida, de trabalho. Giuseppe Crea, padre comboniano, doutor em psicologia, em seus artigos, oferece-nos exemplos significativos tomado da vida de pessoas concretas, sem querer demonizar o uso da internet: o mesmo dirá que diante deste modelo está um grande risco. A internet causa dependência, causa dentro de nós uma desordem, quando ela torna dona de nós.
A visão do Magistério é que a sexualidade e os novos meios de comunicação devem nos direcionar à Deus, deve nos comunicar o mesmo.  Enquanto a visão do mundo contemporâneo é mercadológica, ou seja, a sexualidade e a internet, são meios de mercado, onde compramos e vendemos. Por isso, o maior risco hoje nestes meios, é com relação ao sexo. Onde depois trataremos de forma mais clara.
Não existem muitos escritos do Magistério sobre o tema, mas, dois documentos são necessários citarmos:

Primeiro, o Decreto do Concílio Ecuménico Vaticano II Inter mirifica, promulgado pelo meu venerado predecessor, o servo de Deus Paulo VI, a 4 de Dezembro de 1963. É o segundo, a carta apostólica “O rápido desenvolvimento” do sumo pontífice João Paulo II aos responsáveis pelas comunicações sociais, em comemoração dos 40 anos do decreto Inter Merífico.

O Papa João Paulo II dirá: O rápido desenvolvimento das tecnologias no campo da mídia é certamente um dos sinais do progresso da sociedade de hoje. Olhando para estas novidades em constante evolução, torna-se ainda mais atual o que se lê no Decreto do Concílio Ecuménico Vaticano II Inter mirifica, promulgado pelo meu venerado predecessor, o servo de Deus Paulo VI, a 4 de Dezembro de 1963. "Entre os maravilhosos inventos da técnica que, principalmente nos nossos dias, o engenho humano extraiu, com a ajuda de Deus, das coisas criadas, a Santa Igreja acolhe e fomenta aqueles que dizem respeito, principalmente, ao espírito humano e abriram novos caminhos para comunicar facilmente notícias, ideias e ordens"[1] .
Os novos meios de comunicação, a internet é para a Igreja um meio fecundo para o processo de evangelização, e ao mesmo tempo um dos grandes desafios da Igreja nos dias de hoje.
O Papa Papa Paulo VI, por sua vez "se sentiria culpável diante do seu Senhor se não usasse estes poderosos meios” . Com efeito, a Igreja não está chamada unicamente a usar os mass midia para difundir o Evangelho mas, hoje como nunca, está chamada também a integrar a mensagem salvífica na "nova cultura" que os poderosos instrumentos da comunicação criam e amplificam. Ela sente que o uso das técnicas e das tecnologias da comunicação contemporânea é parte integrante da sua missão no terceiro milénio.
São numerosos os desafios para a nova evangelização num mundo rico de potencialidades comunicativas como o nosso. Tendo isto em consideração, na Carta encíclica Redemptoris missio João Paulo II, quis realçar que o primeiro areópago do tempo moderno é o mundo da comunicação, capaz de unificar a humanidade tornando-a como se costuma dizer "uma aldeia global".
Os meios de comunicação social alcançaram tal importância que se tornaram para muitos o principal instrumento de guia e de inspiração para os comportamentos individuais, familiares e sociais. Trata-se de um problema complexo, visto que esta cultura nasce, ainda antes do que dos conteúdos, do próprio fato que existem novos modos de comunicar com técnicas e linguagens inéditas.
O Papa João Paulo II, alerta-nos: A nossa época é uma época de comunicação global, onde muitos momentos da existência humana se desenrolam através de processos mediáticos, ou pelo menos, se devem confrontar com eles: a formação da personalidade e da consciência, a interpretação e a estruturação dos vínculos afetivos, o desenvolvimento das fases educativas e formativas, a elaboração e a difusão de fenómenos culturais, o desenvolvimento da vida social, política e económica.
Numa visão orgânica e correcta do desenvolvimento do ser humano, a mídia pode e deve promover a justiça e a solidariedade, comunicando cuidadosa e verdadeiramente os acontecimentos, analisando de maneira completa as situações e os problemas, dando voz às diversas opiniões. Os critérios supremos da verdade e da justiça, na prática maduro da liberdade e da responsabilidade, constituem o horizonte em cujo âmbito se situa uma autêntica deontologia na fruição dos modernos e poderosos meios de comunicação.
Contudo, a declaração Persona Humana, orienta-nos, dizendo: Os artistas, os escritores e todos aqueles que dispõem dos meios de comunicação social devem exercitar a sua profissão de acordo com a sua fé cristã, conscientes da enorme influência que podem exercer. Hão-de ter sempre presente que “todos devem respeitar a primazia absoluta da ordem moral objectiva” e que não se pode dar a preferência sobre ela a nenhum pretenso objetivo estético, a vantagens materiais ou ao êxito. Quer se trate de criações artísticas ou literárias, quer se trate de espectáculos ou de informações, cada um no seu campo próprio deve dar mostras de tacto, de discreção, de moderação e de um justo sentido dos valores. Deste modo, longe de favorecer mais ainda a licença dos costumes, hão-de contribuir para a refrear e mesmo para sanear o clima moral da sociedade. O uso correto do meios de comunicação devem partir dos pais em primeiro lugar, como também os educadores da juventude, hão-de esforçar-se por conduzir os seus filhos e os seus educandos à maturidade psicológica, afetiva e moral, em conformidade com a sua idade, por meio de uma educação integral. Para isso dar-lhes-ão uma informação prudente e adaptada à sua idade e procurarão assiduamente formar-lhes a vontade para os costumes cristãos, não só com conselhos, mas sobretudo com o exemplo da sua própria vida e mediante a ajuda de Deus que lhes alcançará a oração. E hão-de ter também o cuidado de os proteger de numerosos perigos de que os jovens não chegam a suspeitar.

CAMPO PASTORAL
Nos tempos hodiernos, mais do que nunca, temos visto nos meios midiáticos e até mesmo presenciado ocasiões em que a mercantilização do corpo e o uso da sexualidade como pura satisfação do prazer tem se tornado cada vez mais forte. É aí que a teologia cristã deve se questionar acerca do que fazer diante de tamanha desvalorização daquilo que se entende como sagrado, como o templo onde habita Deus, que é o corpo humano.
Não é possível que se pense a sexualidade no âmbito da teologia cristã sem estabelecer um diálogo com as diferentes realidades que se apresentam. O Deus cristão é o Deus Palavra, isto é aquele que fala ao coração do homem e se revela a ele, mas também aquele que ouve os apelos do ser humano e de sua realidade na qual se encontra.
Se por um lado a era digital tem sua eficácia na aproximação de pessoas que podem estar a quilômetros de distância, ela também tem seu grande risco de distanciar aqueles que convivem conosco diariamente. Por conta das grandes evoluções tecnológicas o ser humano corre o grande risco de se isolar cada vez mais e romper as relações interpessoais e o diálogo. É comprovado cientificamente que a falta de diálogo acarreta ao homem diversas doenças físicas e psíquicas.
O Instrumentum Laborias para o Sínodo das Famílias que acontecerá em outubro traz alguns dos muitos desafios para a vida familiar e para a sexualidade:
ü  Violência psicológica, física e sexual, sobretudo contra mulheres e crianças;
ü  Distúrbios relacionais e afetivos;
ü  A promiscuidade sexual em família;
ü  A prostituição e o “turismo sexual” é uma chaga que traz compreensões negativas acerca da experiência de Deus;
ü  As dependências virtuais, pornografias que, as vezes, são compartilhadas até em família.
ü  As dependências virtuais traz alienação e faz perder o diálogo e a relação interpessoal.
A sexualidade tem sua ambivalência, ela pode ser positiva se vista de forma mais profunda, gerando o respeito, o amor, e até mesmo a realização do próprio ser humano enquanto um ser que sente os apelos de sua sexualidade. Todavia, ela também pode ser frustrante para o ser humano, se vista só como algo biológico, como busca de satisfação de prazeres. Essa visão superficial e nem um pouco afinada pode fazer com que o ser humana não viva uma sexualidade de comunhão com o outro, mas de dominação do outro, gerando assim sua própria destruição.
Com isso, fica claro que em si mesma, a sexualidade não é má, é algo que acompanha todo o processo existencial do humano. O que fará dela má ou boa é a forma como nos colocamos nos relacionamentos com os outros indivíduos. É por isso que ela é ambivalente. 

ANÁLISE DE DADOS

Após a pesquisa realizada na internet acerca dos crimes cibernéticos, apresentamos alguns dados relevantes que mostram os números do crime no mundo virtual. Vale lembrar que o Brasil ocupa a quarta posição em crimes virtuais e é o quinto maior do mundo em número de internautas, aproximadamente 105 milhões de usuários. Apresentemos os dados disponibilizados pela Central Nacional de Denuncias de Crimes Cibernéticos no qual apresenta o número de páginas que foram denunciadas somente no Brasil por cometerem algum crime no ano de 2014:
ü  4909 páginas por pornografia infantil;
ü  4012 páginas por racismo;
ü  2416 páginas por apologia e incitação a crimes contra a vida;
ü  870 páginas por homofobia;
ü  780 páginas por intolerância religiosa;
ü  583 páginas por xenofobia;
ü  493 páginas por crimes contra animais;
ü  346 páginas por tráfico de pessoas;
ü  258 páginas por neonazismo;
ü  167 páginas não classificadas[10].

Para combater esses crimes, foi assinada no dia 30 de novembro de 2012, a lei nº 12.737/12 popularmente conhecida como Lei Carolina Dieckmann, na qual prevê penas para quem comete tais crimes. Os “Crimes virtuais são delitos que podem ser enquadrados no Código Penal Brasileiro praticados através da internet ou contra a internet”.

Segue alguns exemplos mais comuns de crime cibernético:
ü  Injúria: falar mal ou insultar alguém na rede.
ü  Calúnia: inventar e compartilhar na internet histórias falsas sobre alguém ou algo.
ü  Difamação: associar uma pessoa a um fato que ofende sua reputação e compartilhar esse material.
ü  Divulgação de segredos: revelar segredos de terceiros na internet ou divulgar material confidencial de documentos/correspondências que possam causar danos.
ü  Discursos de ódio: Criar, compartilhar ou curtir publicações racistas, com preconceito de raça, religião, sexualidade.
ü  Incitação ou apologia ao crime: Compartilhar materiais de incentivo ao uso de drogas, organizar um ato violento são exemplos.
ü  Falsa identidade: criar um perfil falso nas redes sociais, usando dados que não são os seus. Seja para cometer mais crimes ou não, a falsa identidade já é uma infração.
ü  Pedofilia: troca, armazenamento ou compartilhamento de informações ou imagens envolvendo crianças ou adolescentes.
ü  Extorsão: Obter vantagem indevida de alguém, mediante chantagem. Na rede, é muito comum o uso de fotos ou informações pessoais da pessoa em troca de dinheiro.
ü  Furto: É como o uso de informações “roubadas” na internet para o acesso, por exemplo, à conta bancária da pessoa.
ü  Ataques: Os ataques podem ser tanto à conta do usuário, para o “roubo” de senhas e dados pessoais quanto a sites de grandes empresas.
ü  Estelionato: Sites “vendem” produtos, recebem os pagamentos, mas não entregam a mercadoria[11].
 Apresentamos ainda uma pesquisa da revista The Wikke, disponibilizada no site da “Revista Abril” que apresenta alguns dados sobre a indústria mundial de pornografia, bem como o comportamento de muitos usuários:
ü  A indústria pornográfica movimenta US$ 97 bilhões por ano em todo o mundo. Os EUA são responsáveis por 13% desse montante;
ü  12% dos sites existentes são de conteúdo pornográfico, ou seja, 76,2 mihões;
ü  266 novos sites pornôs surgem na net todos os dias;
ü  70% dos homens entre 18 e 24 anos, visitam sites pornôs ao menos, uma vez por mês;
ü  25% das pesquisas em ferramentas de busca envolvem sexo, ou seja, 750 milhões por dia[12].

Diante desse dados, podemos afirmar que a internet guarda um vasto campo de conteúdos eróticos e o que impulsiona a prática de crimes ligados a essa área. Não podemos negar o fato da dimensão que a internet atingiu nos dias atuais, o que revela a ineficiência por parte do Estado em estabelecer leis que diminuam os crimes cibernéticos, pois o trabalho ainda tem muito que avançar.

CONCLUSÃO
Diante de tudo que foi apresentado, nos colocamos em reflexão acerca dos desafios da Igreja neste mundo marcado cada vez mais, pelo desejo sexual exacerbado, difundido pela grande massa capitalista. É urgente o empenho em valorizar a pessoa enquanto templo do Espírito Santo. Os bispos da Igreja no Brasil, no documento 100 afirma que “a internet é um território sem fronteiras que entra diretamente em todos os espaços. Essa realidade produz um mundo cada vez mais informado, conectando a todos e atingindo a privacidade de pessoas e instituições”. Afirmam ainda que os jovens são o principal alvo, uma vez que ele estão cada vez mais familiarizados com essa ferramenta e a usam também para viver sua religiosidade: “A vivência religiosa está mais midiática [...] Há quem expresse sua religiosidade conectando-se apenas pelas mídias: jovens se conectam nas redes sociais e os idosos preferem a televisão”.
Diante dessa imensidão de sites que deturbam a moral da pessoa, é necessário que haja um amplo trabalho na reflexão da dignidade humana, pois é crescendo a hiper-valorização do corpo enquanto satisfação hedonista. Tais fatores podem causar consequências psicológicas graves como fora apresentado. Um exemplo é a pesquisa da Universidade de Cambridge que constatou que o cérebro das pessoas que tem uma compulsão por conteúdos pornográficos funciona exatamente como o cérebro de pessoas viciadas em drogas.
Portanto, é necessário que os líderes religiosos estejam atentos no cuidado pastoral para com essas pessoas e tem o dever de instruir seus fieis, diante dessa realidade tão próxima de nossas comunidades paroquiais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 5ª. ed. Porto Alegre: Sulina, 2010.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ª. ed. São Paulo: Editora 34, 2000.
SILVA, Alexander José. Cyber e os relacionamentos interpessoais em meio aos fenômenos tecnológicos. 2013. 54f. TCC. (Licenciatura em Filosofia) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, 2013.



[1] “especifica-se como uma cultura hacker ao incorporar normas e costumes a redes de cooperação voltadas para projetos tecnológicos” (CASTELLS, 2003, p. 34).
[2] “é uma caracterização demasiada restritiva da cultura da Internet” (CASTELLS, 2003, p. 35).
[3] “acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento tecnológico, fazendo da Internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica” (CASTELLS, 2003, p. 34-35).
[4] “trabalha ao lado da cultura hacker e da cultura comunitária, para difundir práticas da Internet em todos os domínios da sociedade como meio de ganhar dinheiro” (CASTELLS, 2003, p. 35).
[5] Sistema operacional desenvolvido em Setembro de 1981 pela empresa Microsoft. Que possui um grande desenvolvimento desde a criação até hoje. Seu criador é Bill Gates e Paul Allen. Embora Gates seja o criador deste sistema, Castells não o considera um hacker.
[6] Sistema operacional desenvolvido em outubro de 1991 que teve a colaboração de inúmeras empresas Norte Americanas, como: IBMSun MicrosystemsHewlett-Packard (HP), Red HatNovellOracleGoogleMandriva e Canonical. Seu criador chefe foi Linus Torvalds (considerado um hacker). Diferente da Windows, o Linux é um software livre.
[7] CASTELLS, p. 143, 2003.
[9] Padre Jesuíta, é diretor da revista La Civiltà Cattolica e professor na Pontifícia Universidade Gregoria, onde obteve seu doutorado em Teologia. É consultor do Pontifício Conselho de Cultura e do Pontifício Conselho para a Comunicação Social. É autor de diversas obras sobre cultura contemporânea, e vários estudos sobre a Internet.
[10] SAFERNET. Disponível em: <http://indicadores.safernet.org.br/>. Acessado em 14 set. 2015.

[11]EPTV.COM. Brasil é um dos 5 países com maior número de crimes pela internet Disponível em: <http://www.viaeptv.com/noticias/noticias_internaNOT.aspx?idnoticia=1047586>. Acesso em 15 set. 2015.

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