REFLEXÃO: Domingo de Ramos – Ano A
O gozo da Páscoa só será gozo pela humilhação de cruz
A liturgia deste domingo,
Domingo de Ramos, convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao
nosso encontro, partilhou da nossa humanidade, fez-Se servo dos homens,
deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia
deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição
suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos
propõe: a doação da vida por amor, ou seja, sua Paixão definitiva.
As leituras vem nos
apresentar esta perspectiva plausível do Servo Sofredor, tanto que na primeira
leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no
meio das nações a Palavra da Salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o
profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de
Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus. Somos
convidados a refletir: temos consciência de que a nossa missão profética passa
por sermos Palavra vivas de Deus? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no
nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o mundo e o coração
dos homens?
O profeta é o homem da
Palavra, que com seus atos levará a conversão e transmitirá a
salvação/libertação somente no ecoar de sua palavra profética, sendo ele
instrumento de Deus na sociedade. Sofrimento e a dor são as consequências de
uma missão bem executada, pois simplesmente não convencerá a sociedade, sua
função é de deixar-se apaixonar pela Palavra e transmitir esta paixão.
Escutamos no Evangelho de
hoje, este contato de vida e morte, mas necessariamente o elemento de morte,
mas uma morte apaixonante. É o momento supremo de uma vida feita dom e serviço,
a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na
cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que
se faz dom total e gratuito. Jesus, o profeta dos Profetas, transmiti a
mensagem apaixonadamente. Mensagem não de si, mas a mensagem do Pai.
O silêncio e a escuta são
elementos importantíssimos no caminho de Jesus. Seu itinerário profético
oferece o AMOR, dom e elemento vital de toda a Sagrada Escritura. Jesus se faz
apaixonante pelo gênero humano, o Pai é apaixonado pela Criação e o Espirito
garante que esta paixão dure até os nossos dias. O profetismo de Jesus foi
interrompido e não entendido pelos de seu tempo, infelizmente. Fiquemos a nos
perguntar: Hoje este profetismo teria sido compreendido?
O movimento da Encarnação
do Verbo[1] que fora prometido pelas gerações
aconteceu. Agora o Verbo passa pela kenosios[2] mais uma vez, mas pela blasfêmia,
dureza de coração e inveja da humanidade. Jesus de herói passa a ser vilão de
seu tempo. De Filho de Deus passa as ser criminoso de uma religião que não
compreendeu seus ensinamentos e os ensinamentos do Pai. Pensemos na inveja dos
Fariseus, Saduceus e tantas outras classes sociais/religiosas do tempo de Jesus
levaram ele a morte humilhante de Cruz. E no século XXI, quais os pecados da
humanidade que levam a morte uns dos outros? A Campanha da Fraternidade irá nos
dizer “a morte dos Biomas”, a morte de nosso habitat humano, a morte dos seres
vivos, a morte da criação.
Seria ótimo se pulássemos
deste domingo para o domingo do gozo da Páscoa, mas isso seria incompreendido
por nós cristãos, pois o gozo da Páscoa só será gozo pela humilhação de cruz,
pela Paixão do Senhor e por sua morte. O véu do Santuário rasgou-se, o túmulo
esta guardado para ninguém roubar o corpo, a luz é cessado, o medo é
persistente... mas nada disso impedirá que aconteça a Ressurreição.
Convido a todos, irmãos e
irmãs, neste momento e nesta Semana Santa a vivenciarem a santidade desta
semana, com o silêncio e recolhimento profundo. Quanto estivermos na glória
gozarmos deste momento de festa juntamente com Cristo, o Senhor Ressuscitado. Poupemos
nossas energias para chorarmos com o mestre, lamentamos sua morte injusta e por
fim glorificarmos junto dele sendo TESTEMUNHAS VERDADEIRAS DO AMOR, não
cantando mais Meu
Deus, meu Deus, porque me abandonastes, mas sim cantaremos Vitória,
pois a morte foi vencida.
[1] É um conceito religioso presente no Cristianismo. A Sagrada
Escritura fala da Encarnação do Verbo para
enfatizar que Deus fez-se homem (Jo 1,14; I Tm 3,16), pois nela Jesus é descrito como vindo em carne.
[2] É um conceito na teologia cristã que trata do esvaziamento da vontade própria de uma pessoa e a aceitação do desejo divino de Deus. É encontrado no Novo Testamento como o esvaziamento de Jesus
[2] É um conceito na teologia cristã que trata do esvaziamento da vontade própria de uma pessoa e a aceitação do desejo divino de Deus. É encontrado no Novo Testamento como o esvaziamento de Jesus
