RESENHA: BOROBIO, Dionisio. O perdão sacramental dos pecados

BOROBIO, Dionisio. O perdão sacramental dos pecados. Revista Concilium, n. 204, 1986. p. 98-116.

O artigo extraído da Revista Concilium de 1986 apresenta um panorama teológico-histórico a partir de elementos do simbolismo catolicista o perdão sacramental, em vista de uma fundamentação em: Cristo (origem sacramental), Igreja (reconciliadora e portadora do sinal visível sacramental) e ser humano (agente corresponsável da retomada da aliança). O artigo esta dividido em três subtemas que parte da “especificidade depreciada do perdão sacramental”, “conteúdo e identidade do perdão sacramental” e “estrutura simbólica do perdão sacramental”.
“O perdão cristão é uma realidade divino-humana, que se manifesta e realiza diversamente conforme as situações e os meios pelos quais esse perdão é dado e recebido” (p. 98), já na introdução do artigo, Borobio vem apresentar a pluralidades das relações, com relação ao encontro sacramental. O objetivo do autor é apresentar sistematicamente o significado e o significante presente na conversão e na reconciliação que hoje nos conduz ao um verdadeiro compromisso pessoal, social e divino.
Na primeira parte, destaca-se o perdão sacramental diante dos diversos níveis da Igreja, sendo ele laical ou clerical, no reconhecimento, segundo o autor da crise sacramental destacando o termo desritualização do perdão em favor de uma secularização social e sacramental. Destaca-se aquilo que compreendemos de auto-ajuda com a busca somente do bem interior, transformando os confessionários em salas terapêuticas. A qualidade simbólica sacramental perde sua especificidade. Tanto que o sentido do “perdão sacramental é o cume simbólico do perdão existencial, o certificado eclesiológico do perdão divino, a exigência cristã do perdão eclesial” (p. 99-100), perde o seu valor social e pessoal no encontro com o perdão de Deus, da Igreja e da Comunidade.
Na segunda parte, teremos a estrutura e o conteúdo do sacramento se apresentará como realidade a identidade do perdão. Através das três perspectivas: Penitência, reconciliação e perdão, pois “a penitência é um processo da conversão, que implica a reconciliação e culmina no perdão” (p. 100). A conversão é o movimento do reconhecimento do penitente que se orienta ao encontro com Deus, afastando-se do pecado. Graça essa que se dá pela primeira vez pelo batismo e sua segunda vez no seu processo diário e intenso, nos apresenta os Santos Padres. A reconciliação propõem, segundo o autor, o cancelamento da dívida, o processo de inimizade à amizade, ou seja, o encontro de Deus e a humanidade, sendo a essência da ação sacramental. Por fim, o perdão, que tem como seu sujeito Deus, ou seja, Aquele que reconcilia, que perdoa, e não pode ser objeto que precise ser reconciliado ou perdoado, “o perdão é ato gratuito e eficaz de Deus, mediante a cruz de Cristo” (p. 107). Portanto, através destas mediações é possível desenvolver a Trinitáriedade do Sacramento em vista que trata-se de um encontro interpessoal entre o home, a Igreja e Deus.
Na terceira e última parte, o autor apresenta-nos as estruturas simbólicas do perdão sacramental. A primeira estrutura é a conversão penitencial, busca através da historiografia as práticas penitenciais dos sécs. III-XV que expressão um processo de autenticidade da conversão apresentando elementos externos do seu ritmo originário sacramental até os livros que apresentavam as práxis da penitencia, até chegar no Concílio de Trento que impõem uma forma única de penitencia sacramental e a confissão privada, tendo em vista que antes as confissões eram públicas. A segunda estrutura é a reconciliação eclesial, é aquela que “manifestar em sua forma externa a essência interpessoal e relacional da reconciliação (Deus-Igreja-sujeito), como também na sua inserção na história social de reconciliação entre os homens, para que se valorize de forma especial a celebração comunitária” (p. 112). Por fim, a terceira estrutura é a do perdão misericordioso, que visa apontar a gratuidade e incondicionalidade do amor de Deus, que historicamente apontou para a confissão privada buscando a confiança no perdão e no encontro pessoal com Deus e assim gerando a “aliança” com a comunidade com a contrição do pecador.

Portanto, assim como o autor em sua conclusão acreditamos que o sacramento do perdão realmente é o encontro simbólico da retomada da aliança eclesial, tendo em vista que o perdão é gratuito de Deus e a conversão parte do indivíduo na tentativa da retomada da reconciliação com Deus e com a Igreja.

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