ESTUDO: PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES
INTRODUÇÃO
A primeira carta aos tessalonicenses é o primogênito dos livros do Novo Testamento e, obviamente, o primeiro texto escrito de Paulo. Ela foi escrita em grupo, exatamente do jeito que gostamos de fazer hoje em dia. Paulo, Silas (Silvano) e Timóteo (cf. 1Ts 1,1) são, simultaneamente, autores desse texto.
As cartas de São Paulo foram escritos durante suas viagens missionárias, muitas deles escritas após sua morte pelas comunidades fundadas por ele e por seus seguidores, na tentativa de esclarecer princípios e animar a comunidade na solicitude de se manter no caminho de Jesus Cristo.
Ao escrever a uma comunidade, Paulo não está preocupado em estabelecer regras gerais para todos os outros grupos que se reuniram em nome de Jesus Cristo. A maioria dos problemas que ele enfrenta numa carta reflete a situação própria daquela comunidade.
Ao ler Paulo, portanto, deveríamos assumir a atitude daquele homem simples, que disse: “‘José, deixa explicar o que eu acho que a bíblia é. É como uma laranja: tem suco, semente e casca. Quando a gente lê a bíblia, tem que aproveitar o suco. A semente e a casca a gente joga fora’. O suco das cartas de Paulo pode ser encontrado nas certezas que ele levava em seu coração. Uma delas é que o Evangelho é o fermento para a transformação social. Ele cria novas relações na sociedade, fazendo surgir no mundo um novo amanhecer de vida e liberdade” .
Contexto
Tessalônica era capital de Macedônia. Localizava-se próxima do mar, hoje Salonica. Era porto aonde chegavam navios do mundo todo da época. Era perpassada pelas grandes estradas do Império Romano. A sua população era bem diversificada: cada qual com sua cultura, língua, deuses, folclore, supertições, tradições, etc.
Havia comércio do mundo inteiro. A cidade tinha pensões, hospedarias, saunas, teatros, praças, santuários e prostituição. O campo tinha rebanhos, cultivo de oliveiras, uvas e frutas. Os latifundiários detinham as terras. No mar, muitos pescadores tiravam das águas o sustento que alimentava estivadores, comerciantes, marinheiros, soldados, funcionários públicos, etc.
Em Tessalônica havia uma elite dominante, formada por lideranças políticas e militares e pelas minorias que detinham e controlavam o comércio e os meios de produção. A classe média era formada por funcionários públicos, militares e outros. A maioria do povo era pobre. Não tinha vez e nem voz. Paulo, pregou alguns meses, sendo interrompido por um motim provocado por judeus invejosos, que forçaram a saída precipitada de Paulo e Silas (Silvano) para Beréia, de onde também tiveram que fugir, indo para Atenas. Dali, Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalônica, a fim de consolidar a comunidade.
Fundação da comunidade paulina
Estamos próximos do ano 49-50 dC, período da segunda viagem do apóstolo, que é relatada por Lucas em Atos 15,39-18,22, viagem esta que durou cerca de três anos. Paulo partiu com Silas (Silvano) ruma às comunidades visitadas durante a primeira viagem. Em Derbe encontraram Timóteo, que se juntou a eles. Portanto, se tem agora uma equipe que irá escrever a Carta aos Tessalonicenses.
Em Filipo, Paulo e Silas acabaram sendo flagelados e postos na prisão (cf. At 16,11-40). Onde Paulo fez valer seus direitos de cidadão romano, obtendo, dessa forma a liberdade. Feridos no corpo e machucados no espírito, Paulo e Silas chegaram a Tessalônica (At 17,1). Certamente tiveram que explicar aos ouvintes o porquê das feridas no corpo. Mais tarde, por escrito, eles recordam aos tessalonicenses a dureza desse momento 1Ts 2,1-2.
Tanto Paulo como Silas, feridos no corpo e machucados no espírito, decidem anunciar aos tessalonicenses a nova e definitiva proposta de felicidades 1Ts 2,3-6.10. Um bom número de tessalonicenses (Cf. At 17,4) deram créditos a esses dois pregadores feridos no corpo e machucados no espírito, nascendo ai uma comunidade cristã corajosa.
Teologia da carta
É estimular a perseverança da comunidade e responder algumas questões que a preocupam, como a vinda gloriosa de Cristo (a parusia), que deve ser aguardada na esperança e no compromisso com as tarefas diárias. Portanto, para compreender especialmente a 1Ts é preciso ter presente que Paulo e sua equipe missionária foram muito influenciados pelo movimento apocalíptico. Consideravam que o fim do mundo e a vinda do Reino estavam próximos. Aguardavam o dia do juízo final, quando o último império cairia, dando definitivamente lugar ao reino de Deus.
A tonalidade dominante é pastoral: não há polêmica, nem erros a corrigir. Com profundo reconhecimento a Deus por tudo o que Ele realiza, Paulo encoraja os cristãos a progredir. Revela uma grande intensidade afetiva, que é recíproca entre os missionários e os crentes. Nela sobressaem a gratidão, o entusiasmo, a confiança, a solicitude como de mãe e pai (2,7-8.11). E comunica ao leitor a generosidade e a grandeza de alma dos tempos iniciais, de fundação.
A 1Ts representa a expressão mais antiga da mensagem de Paulo às nações: o apelo para os pagãos rejeitarem os ídolos e servirem o Deus único; o anúncio do juízo final, dado por Deus a Jesus; a ressurreição como preparação. Quando esta carta foi escrita ainda não havia muita organização eclesial, pois não há referências à hierarquia na Carta, só fala em líderes espirituais (cf. 1 Ts 5,12-13).
Estrutura da carta
I. AÇÃO DE GRAÇAS E EXORTAÇÃO (1,1-3,13)
Saudação inicial – Remetente e destinatário (1,1)
1.1. Ação de graças e elogios à comunidade pelo trabalho dos missionários e pela resposta dos tessalonicenses (1,2-2,16).
(v 8): Fé ativa (2,1-3,10);
(v.9): Servir a Deus no amor capaz de sacrifícios (3,11-4,12);
(v.10): firmeza na esperança (4,13-5,11).
2,1-3,10: Fé ativa que subsiste em meio a tribulações.
2,1-12: Exemplo do apóstolo;
1.2. Missão de Timóteo, cujo êxito suscita reconhecimento a Deus (2,17-3,13).
2,13-3,10: Exemplo da comunidade em meio a perseguições. Completar o que falta na fé (3,2.10).
3,11-4,12: Amor capaz de sacrifícios. Completar o que falta no amor (4,1.9-10).
II. PRÁTICA CRISTÃ: A ESPERANÇA NA VINDA DO SENHOR (4,1-5,28)
2.1. Aspectos fundamentais da vida cristã: santificação e caridade (4,1-12).
2.2. Aspectos da expectativa escatológica: os mortos antes da parusia e o Dia do Senhor (4,13-5,11), sendo o tema central da carta é a firmeza na esperança, corrigindo o que falta na esperança.
4,13-18: Ressurreição dos mortos;
5,1-11: Fim dos tempos. É texto apocalíptico.
2.3. Outros conselhos úteis à vida cristã (5,12-22)
5,12-22: Síntese e exortações várias.
Saudação final (5,25-28)
Exegese - Eixo central do livro
Exortação à vida santa (1Ts 4,1-12)
v. 1-2
Paulo vem nos apresentar o código da santidade e que agradecer a Deus nunca é um fato acabado. Tal santificação é substantivo de ação. Embora já sejam santos = consagrados pelo batismo, sua santificação deve continuar, na relação bem presente no NT com o Espírito Santo.
A carta destacou no inicio a fé ativa dos cristãos, o esforço na caridade e a constância da esperança no Senhor Jesus Cristo (1Ts 1,3). A moral cristã é o caminho constante no seguimento de Jesus. O exemplo dos missionários, e da comunidade que vive o amor deu força para continuar progredindo apesar dos sofrimentos e tribulações. Tanto que o seguimento de Jesus exige perseverança, como um compromisso assumido que não pode acabar como fogo de palha.
v. 3-8
A santidade cristã não é um ponto de chegada, mas um modo de proceder, um caminho a ser feito no amor. Os cristãos são os eleitos de Deus (1Ts 1,4) santificados e chamados a ser santos. Portanto, a vontade de Deus é a santificação. Tanto que ao falar das relações sexuais, ou seja, a “Fornicação” “possuir/adquirir seu instrumento”. Várias interpretações foram postas, mas o que é claro é que a vida sexual não esta isenta de regras, antes fica submetida à “santificação”, em outras palavras se exige um relacionamento de conhecimento do verdadeiro Deus. Por isso, o mandamento do Amor inclui o respeito ao próprio corpo. Por Tessalônica ser uma grande cidade do império romano, era grande também as imoralidades com o a prostituição, nisso o apóstolo alerta o afastar-se das imoralidades. E ninguém tem direito de instrumentalizar o corpo do outro para mero prazer, tampouco para comercializar com a chamada indústria da pornografia, pois como nos lembra GN ele é imagem e semelhança de Deus.
(v. 6) o corpo são os irmãos e irmãs da comunidade eclesial. Especialmente em matéria de relação homem mulher, nenhum corpo pode sofrer qualquer tipo de abuso ou violência. Quantos corpos feridos, quebrados, crianças, adolescentes, mulheres, vítimas de abuso carregam traumas pela vida inteira? Isso calma por justiça! Por este motivo o texto acrescenta “o Senhor é vingador de todas estas coisas” (1Ts 4,6).
v. 9-12
A carta faz memória do testemunho da comunidade no amor fraterno, sendo ele o ensinado por Deus (philadelphia). Eles aprenderam a amar uns aos outros (1Ts 4,9). Lembrar o amor cristão aprendido e praticado faz bem à comunidade. A história passada é vista como motivo de orgulho e incentivo a progredir sempre mais. Essa boa fama da comunidade que vive a fé, esperança e caridade se espalhou em toda a parte.
Os missionários antes de trazer novo ensinamento partem dos progressos da fé e do amor cristão já existente, de forma que a carta é bem positiva. A exortação de progredir ainda mais (1Ts 4,10) impulsiona a comunidade a avançar na caridade a ser testemunha em diferentes situações.
Na comunidade o testemunho do amor cristão aparece nas atividades diárias. Ali se faz a experiência de Deus com uma vida dedicada no amor. Não se podia alimentar grandes ambições no mundo escravagista grego. É no trabalho com as próprias mãos (v.11-12), que se ganha dignamente seu próprio sustento, que os tessalonicenses encontraram um sentido a vida.
A esperança dos cristãos (1Ts 4,13-18)
Jesus anuncia sua vinda gloriosa e triunfal. Os cristãos eram convidados a receber o triunfador para associar-se à sua glória e alegria. Cerca de vinte anos depois da ressurreição de Jesus, os cristãos vivem aguardando o “dia do Senhor”. Mas o que será dos cristãos que morreram nessas duas décadas? Segundo a doutrina do AT “os mortos não vivem”, não participam das festas da comunidade. “As sombras se levantarão para te louvar?” Paulo responde que esses mortos “se levantarão”, ressuscitarão para participar do triunfo de Cristo. Depois dá conselhos para os vivos.
O objeto da esperança é substancia “estar em Deus” (v.14) e com “o Senhor” (v. 17). O sujeito são as pessoas: não entra em jogo a sobrevivência de almas separadas e sim a retomada do “bom ladrão”: “estarás comigo” (Jo 12,26). Texto pode ser comparado com 1Cor 15.
A teologia paulina da esperança cristã e vinda do Senhor é retomada e aprofundada nas suas cartas. Ele coloca no mesmo nível os vivos e os mortos: todos os que vivem na fé já estão com Cristo e a morte é passagem para a vida plena. E assim a comunidade nos convida a buscar consolo na Palavra do Senhor. E assim diremos Fl 1,21 “Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro”.
Instruções a respeito da nova vinda de Cristo (1Ts 5,1-11)
Apresenta-nos a nota de roda pé da bíblia do peregrino que a vinda do Senhor será repentina “vós sabeis perfeitamente”, mas desconhecemos a data. É preciso, pois, vigiar. É o ensinamento dos evangelhos. Desenvolve o tema combinando imagens de atividades noturnas: a do ladrão e a do libertino e o sono honrado. O ladrão age nas trevas, que são seu reino, chega de repente a procura não avisar. O patrão deve vigiar de noite, inclusive mais que de dia. De noite se celebram as orgias: é preciso ser sóbrios, como de dia. De noite se dorme: é mister viver vigiando. Sobrepõem-se uma imagem militar, armadura, que sugere um assalto bélico repentino. Paulo representa como dia luminoso para os cristãos, que devem responder às exigências da luz.
O tempo oportuno
O discurso dos missionários continua sendo de consolação. No inicio quer esclarecer mais uma vez sobre os tempos e momentos da vinda do Senhor. Mesmo que as instruções já fossem dadas alguns continuam a ignora-las. Portanto, é importante estar atentos, não se acomodar e tomar uma decisão para seguir Jesus. Assim o reino começa a se manifestar. O encontro com o Senhor que vem, o dia do Senhor acontece em muitos momentos, palavras e acontecimentos, sinais na história. Assim, os tessalonicenses não precisavam ficar angustiados com o tempo cronológico, quando o Senhor virá, mas ficar atentos na história presente, nos sinais da presença de Deus que chama.
Vigiar
O que os cristãos devem fazer para andar na luz? A resposta está na exortação do V.6. A exortação à sobriedade é própria dos filhos da luz. Vem repetida em 1Ts 5,8 com o acréscimo da vivencia das virtudes da fé, do amor e da esperança.
Resistir
Revestir-se da “couraça da fé” significa ainda tomar a armadura de Deus para resistir diante dos tempos ruins e manter-se firmes. Mas também o cristão deve ter o capacete da esperança da salvação. De fato, fomos salvos na esperança em Cristo. A linguagem é tirada do mundo militar. O cristão é como soldado, deve lutar e proteger-se dos golpes do inimigo. Trata-se da linguagem de resistência diante das forças opostas. A arma do cristão e que lhe dá identidade são as virtudes. E em uma sociedade com crise de valores, que o povo não tem onde se agarras, o projeto cristão oferece o Evangelho que lhe dará mais segurança para resistir diante dos perigos.
CONCLUSÃO
1Ts 5,12-28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA PEREGRINO. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2006.
BORTOLINI, José. Como ler a primeira carta aos tessalonicenses: Fé, amor, esperança. São Paulo: Paulinas, 1991.
CAPUCHINHOS. 1ª. Carta aos tessalonicenses. Disponível em: . Acessado em 04 set. 2017.
CNBB. Mês da bíblia 2017: Para que n’Ele nossos povos tenham vida. Brasília: Edições CNBB, 2017.
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