Teologia da Graça no Novo Testamento

Teologia da Graça – Novo Testamento

Alexander Silva

Partindo dos pressupostos de que a Graça é um elemento da constituição humana e que possibilita que todos os homens e as mulheres façam a sua busca pela experiência de graciosidade da autodoação de Deus. Apontaremos algumas perspectivas bíblicas extraídas do Novo Testamento que levam ao compromisso com a práxis de Jesus Cristo em vista de atualizar na concretude das relações sociais e religiosas as raízes da sistematização da Teologia da Graça.
Antes de entrarmos na compreensão do Novo Testamento sobre a graça que possui seu fundamento central no evento Cristo, vale resgatarmos a experiência fundamental do povo de Israel, no Antigo Testamento, que é a aliança (berit). A aliança é a base da experiência vetero-testamentária da salvação, pois é Deus que oferece a experiencia de Graça a vida humana em todas as suas dimensões, sendo elas pessoal, social, religiosa e política. Assim compreenderemos que trata-se de um “bem querer” de Deus na vida dos seres humanos que os conduz Israel a salvação e aliança mesmo diante de seu afastamento por inúmeras vezes. Tanto que será possível compreender a partir dos termos hanan (entregar-se com amor), hén (encontraram favor aos olhos de) e hesed (procedimento fiel para com a comunhão), termos que exprimem esta relação histórica de experiência de salvação e retorno a YHWH. Em linhas gerais, no Antigo Testamento encontra-se esse alimentar-se do desejo de Deus em nossa vida, em vista do desejo de ter, ser e viver no outro e com o outro, portanto, graça significa a atitude pessoal de condescendência e benevolência que Deus tem e sua relação com os homens e mulheres de nossos tempos.
Já no Novo Testamento a centralidade da graça está no evento Cristo (graça Christi), sendo ele o Logo encarnado na história humana que designou-se salvar a todos e se assumiu uma corporeidade humana nos dando de presentes sermos filhos no Filho de Deus Pai. Isso nos aponta perspectivas moduladas com crescente nitidez nos escritos neo-testamentários, pois esta graça vem se apresentar com relação à manifestação definitiva do Pai e a proclamação da ação implica amor, benevolência e gratuidade. Os Sinópticos anunciam os grandes temas da boa notícia proclamada por Jesus com palavras e ações, segundo a qual o Reino de Deus já irrompeu em sua pessoa, ao ele dizer ser ele mesmo a autobasileia. Já as Cartas Paulinas e o Evangelho de João aprofundam a mensagem, enriquecendo-as de elementos decisivos que apontaram para a perspectiva de graça, como conceito chave para compreender a história da salvação, com o termologia Káris, Charis (bem querer de Deus). Diferente do Antigo Testamento agora não trata-se apenas de uma categoria, mas alguém, Jesus Cristo que se manifestou/encarnou-se escatológicamente por amor e amor gratuito de Deus, que se comunica às suas criaturas chamando-as de filhos. Assim, portanto, propomos uma breve reflexão do Evangelho de João que por meio de Jesus podemos ver a graça como salvação e realização da vida eterna.
Para o escritor do quarto evangelho a insistência em Cristo assinala todo o acontecer da salvação como graça, sendo a manifestação da glória e a personificação do caminho da verdade e da vida, tão logo Unigênito do Pai e tão logo feito “cheio de graça e verdade” (Jo 1,14). O termo charis aparece umas três vezes, marcando um retorno constante ao mistério do amor que Deus é e que se difunde nas manifestações do processo histórico salvífico, sendo a expressão: a) o amor eterno a Pai ao Filho e ao munda; b) o amor do Filho (encarnado) ao mundo e aos homens; c) o amor dos homens ao Pai, ao Filho e aos irmãos (Cf. Jo 1,14.16.17).
Geraldo de Mori[1], em seu estudo sobre a “Doutrina da Graça: história e teologia” vai nos dizer que: “O Jesus joanino instaura com sua aparição no mundo a crise escatológica (1,10-12; 3,18-19; 12,47-48), ante a qual o homem deve decidir-se, sem poder negligenciar a eleição. O que não crê é porque “não quer”: “vós não quereis vir a mim” (5,40). Com isso, o incrédulo fecha-se à vida (“não quereis vir a mim para ter vida”). Ao contrário, crer em Jesus é estar salvo”. E que a fé do quarto evangelista ostenta este caráter cristocêntrico, pois crer significa assentir à auto-revelação de Jesus e aderir à sua pessoa, sempre supondo a opção livre do crente, porque a fé é um ato pessoal e responsável de cada pessoa.
Portanto, a graça Christi que carrega consigo o termo charis pressupõem o movimento dinâmico da humanidade em se querer bem, que pela fé conduz a passagem do mundo para Deus e tão logo para a vida eterna, tendo por plano de fundo a sua filiação do Filho, que dá a conhecer o Pai, cujo os frutos recebem em abundancia todos aqueles que creem em Jesus.



[1] Disponível em: . Acessado em 23 out 2017.

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